Mamãe e eu |
Eu, papai e maninho |
Meu avô Sr. Benedicto saiu de sua terra natal nos arredores de Campos de Jordão e foi morar na cidade grande, Sampa, lá pelos idos da década de 30, meu pai tinha então 18 anos e não gostou disso, gostava mesmo da vida do campo, da roça, semear e colher, mulherada, cachaça, futebol, então passou a ir a outras terras em busca de trabalho, arrendava terras, plantava, colhia e vivia sua vida como queria, voltava ao lar paterno e não se adaptava e retornava ao plantio tudo de novo, assim foi por aproximadamente uma década, quando o destino fez trambique e sua colheita não deu nada, então ele comia agrião colhido da beira do rio e amarrava a botina com arame.
Precisando de costureira para uma roupa, foi parar na casa de meu avô materno e assim conheceu minha mãe que era a costureira e foi fazer para ele duas calças de riscado, ela se apaixonou de imediato por aquele garanhão rústico e belíssimo, ofereceu-lhe uma refeição que veio bem na hora, pois o coitado nessa época só comia agrião da beira do rio, para puxar assunto comentou que o franguinho era o que o mosquito matou, mosquito era o cachorrinho da casa que assassinou o franguinho inocente e eles resolveram traçar o pinto, nem o deixaram para o pobre do mosquito, esse fato gerou uma vida de arruaças, pois ele a vida inteira vivia dizendo, “come o franguinho que o mosquito matou”, ao que ela ficava furiosa, mas não adiantava, como moleque matreiro que era se afastava um pouco e como a mulher do piolho continuava, mesmo correndo o risco de levar gordura quente na cara.
Apaixonou |
Safado que era também se encantou pela bela moça e ainda costureira e foi fazer sua lábia a convidando para morar na cidade grande com ele, ao que ela se encantou e passou a sonhar sua vida em São Paulo com belos filhos e um marido trabalhador e podendo ajudar ganhando a vida com sua arte da costura, foi uma grande costureira, de tudo fazia desde roupas de riscado para a roça, roupas para o hotel, ternos masculinos e até vestidos de noiva, era alta costura o que ela fazia.
Ele foi pra Sampa e voltou para leva-la, prometendo casamento, ao que ela já balzaquea aceitou sem pestanejar, e assim partiram no trem a vapor para a cidade grande, ele a levou para a casa de sua mãe, uma vez que seu pai então havia falecido, trabalhava de vigia noturno no Matarazzo, porém sofria de ataque epilético, e numa noite sozinho durante um surto epilético se afogou na própria baba e partiu aos 48 anos.
A acolhida a ela foi boa, conheceu os familiares dele que eram pessoas bacanas, mas de um humor sarcástico e acharam muito engraçado a caipirinha que o irmão trouxe da roça, e assim começou a lendária humilhação que muito a maltratou, marcaram casamento e ela feliz da vida com seus belos sonhos.
Houve um casamento que foram todos e ela ficou só em casa, pois tinha vergonha de sair com eles que a tratavam de caipira, pois eram pessoas “cultas”, modernas de vanguarda mesmo o que de melhor havia na época, ele trabalhava à noite e sabendo que ela ficaria só, não titubeou e faltou ao trabalho nesse dia voltando para casa e já fazendo sua lua de mel antes do já marcado casamento, que apenas esperava os proclamas e assim se mostraram pessoas decididas, modernas para a época, enfim gente autentica, está ai nossa ascendência e nossa maneira de ser.
Chegou o dia do casamento e comes e bebes não faltaram principalmente os bebes, que a irmã dele Iracema tanto bebeu, que foi parar em baixo do guarda roupas se lambuzando toda, houve muitos presentes, baixelas, conjunto completo de jantar, licoreiras e ficaram morando por lá; onde fui concebida, gerada, nascida, a casa onde nasci, onde minha alma mora, vi a luz no hospital Leonor Mendes de Barro, foi tudo muito difícil, já nasci roxa através de um pico que demorou muito a ser executado, foi por pouco que sobrevivi, nasci na quinta e ele só me conheceu no domingo, quando foi buscar-nos e passamos a viver lá onde minha alma mora.
Ela não aguentou os escárnios e pediu a ele para saírem de lá, ao que a levou para um barraco na beira do Rio Tamanduateí, onde fomos ser vizinhos de Dona Afonsina, Sr. Chiquito, seus filhos que a Lídia se tornaria minha querida tia pois se casou com o irmão dele Otávio, vieram visitar-nos a Salomé que já havia se casado com seu irmão Genésio e a irmã dele Paula, a porta do barraco bateu com o vento e elas fizeram o maior inferno dizendo que minha pobre mãe havia fechado a porta na cara delas, foi o maior brigueiro se separaram e me deram para dona Afonsina que se tornou minha segunda mãe, o amor de minha mãe por mim foi maior que tudo e assim pediu que ele arranjasse uma casinha de aluguel que iria trabalhar e o ajudaria a pagar e assim fomos viver nessa casinha lá pra cima da vila Bela.
Não sei exato onde era, mas as lembranças são fortes do que aconteceu nesse local, lá eu aprendi a andar e esperava por meu pai em um canteiro de alfaces, havia um muro alto e um portão, recebia banho e tinha meus cachinhos arrumados, com bela roupinha faceira ia para lá todas as tardes esperar meu querido pai, Pepe, assim eu falava e lembro de minha sombra que ficava a observar até a chegada dele, ai era só alegria e Pepe largava a bolsa da marmita e me levantava no colo, era muita felicidade.
Minha mãe ficou esperando meu irmão a vida nessa época era dura, ela se alimentava de pão seco e água doce, tinha uma barriga bonita eu a achava bem grande e linda, numa noite em casa meu irmão nasceu, lembro a movimentação da parteira chegando e todos se trancando no quartinho até que apareceu aquele bebe com imensos olhos que me pareceram contas negras, subi na cama e não tive duvidas em botar meus dedinhos naquele cristal lindo, ao que fui castigada, acho que foi meu primeiro castigo, mas aqueles olhos negros eram irresistíveis e várias vezes subi na cama para botar lá meus dedinhos, achava muito bonito mesmo e sempre levava as broncas.
Até que por causa de um bico de luz, se encrencaram com a proprietária e minha mãe induziu meu pai construir nossa casinha de madeira provisória no fundo do quintal de minha avó.
Ultima etapa da vida de meus queridos pais executada, ja não estão mais na campa fria, lagrimas rolam de saudade do que um dia foi a felicidade.
ResponderEliminarSaudade eterna de meus velhos.
ResponderEliminarAssim foi o inicio de suas vidas em comum e culminou com o casamento e seus três rebentos...
ResponderEliminarManinho ja não existe, tento aceitar, mas tá difícil...
ResponderEliminarSaudade eterna de nossa pequena família, que ai foi o começo...
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