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domingo, 16 de fevereiro de 2014

Infancia

Infância com turbulências, realizações, artes, felicidade, muita atividade que já não se fazem mais, meados dos anos 50 e inicio anos 60, ai vai alguns dos momentos marcantes, foram tantos:

E o primeiro ano escolar transcorreu com alguns aborrecimentos, fique estigmatizada pelo episódio do maninho tomar o doce de um colega de classe, ele foi proibido de comer doces devido ao estrago nos dentinhos, com 2 anos já extraiu quatro de uma vez, quando viu meu colega com um doce na mão, não teve dúvidas, tomou e abocanhou, meu pai na tentativa de educar o moleque, deu-lhe uma surra, porém não pagou o doce do garoto, que levou o caso à minha professora Dona Isaura, foi muito chato, fiquei com a culpa do maninho nas costas, sem contar meu primeiro dia escolar, a aula que não aconteceu para mim, devido ao sarampo fui mandada de volta o que muito me consternou, naquela época, já o que mais queria era aprender, nada disso impediu meu sucesso nos estudos, o glória, como era bom aprender as lições de linguagem, aritmética, conhecimentos gerais, era o que tinha, e tirei um bom 75 passando para o segundo ano.


segundo ano
Começou bem o segundo ano escolar, professora Dona Maria Inês nas primeiras lições colocou algumas palavras no quadro negro e mandou que formássemos frases, as minhas fizeram grande sucesso e passei a ser sua queridinha, o que fez com que as colegas enciumassem e assim fui perseguida o ano todo, certa vez escondi o trabalho de casa para ser castigada junto com a classe pois não gostava nada da perseguição, debrucei-me sobre a carteira e morria de rir enquanto as colegas adoraram meu castigo, era qualquer coisa de fazer várias vezes o trabalho o que me fez bem feliz, tudo que eu queria era trabalho escolar; cuidávamos da escola levando as cortinas para lavar em casa, aos sábados íamos limpar a sala de aula que era de madeira, mas bem agradável, terminei o ano escolar com uma nota 85, duas alunas tiveram 90, como eu era a queridinha, claro, fui apresentada como o primeiro lugar e ganhei um livro infantil "Soldadinho de Chumbo" que foi lido e relido até gastar suas folhas.


Terceiro ano
Já no terceiro ano resolvi ser rebelde, não queria ser queridinha, saía mais cedo de casa e ficava bagunçando na rua, com meu belo vestido azul marinho de sarja escorregava nos paredões, pulava o alambrado do Parque Infantil e ia brincar no brinquedos, a roupa ficava imunda e rasgada e assim adentrava a Sala de Aula, não fazia o dever e fiquei na Sessão A, as colegas do ano anterior ficaram sabendo e me cercaram na rua próximo a escola com palavras ofensivas que eu nada sabia era apenas queridinha de Dona Maria Inês; minha vingança veio cruel, no segundo bimestre fui direto da Sessão A para a Sessão C e assim calei a boca daquelas meninas invejosas, a professora Dona Nelsa, uma japonesinha ficou feliz com meu aproveitamento, cara de surpresa, mas continuei rebelde o ano todo, só na rua e antes da aula, pois meu comportamento em aula sempre foi nota máxima.
 

Conquista
Quarto ano escolar, já bem diferente, falando o português correto, deixei de lado o sotaque caipira familiar e o fascínio pelo aprender continuava, cada dia era um encanto, conheci a vitória régia do Rio Amazonas, tive conhecimento do Parque Ibirapuera em São Paulo, apesar de paulistana, nunca havia estado naquele lugar, conhecimentos gerais, leitura,aritimética, linguagem me alucinavam, tive aulas de transito, inflação já falada na época, como era bom estar na escola, como era bom aprender cada dia um conhecimento novo.


100 simplesmente
A professora Dona Ligia, uma jovem linda de 18 anos teve o prazer de entregar meu diploma com todas as notas máximas,
tirei 100 em tudo, tamanha era minha vontade de aprender; o dia da entrega do diploma foi lindo, com as meninas de vestido branco e a Taisa uma das alunas prendadas, tocou harmônica para comemorar a data.

Sendo primogênita ajudei meus pais e irmãos no que podia, mas também muitas artes fazia, o que me renderam homéricas surras, pegava meus irmãos e os levava para o córrego, onde hoje passa a Av. Luiz Inácio de Anhaia Mello, era uma façanha pois precisávamos passar escondido pela rua acima, íamos agachadinho para nossa mãe não ver, o passeio era bom, colocávamos nossos pés na agua limpinha que mal chegava ao tornozelo, levávamos latinha furada e alguns peixinhos pegávamos, um dia a mãe descobriu, eu fugi, ela pegou meus irmãos tirou-lhes as calças e os trouxe pelados e assim os colocou na janela de castigo, até nosso pai chegar e os livrar.

Papai trabalhava em período noturno, muitas noites mamãe tinha crise nervosa, eu e maninho íamos a procura de ajuda e só os cães a ladrar era o que encontrávamos, voltávamos e ela mesmo com os dedos duros, enrolados, me orientava a ir até o quintal apanhar capim cidreira e fazer um chá que ela tomava e as vezes melhorava, outras só ao chegar nosso pai para ajudar.

Nossos passeios eram no Museu do Ipiranga e na casa da avó na Vila Bela, onde encontrávamos os primos e muitas artes e brincadeiras, atentávamos nossas tias e muitas vezes ficamos trancados no banheiro de castigo.


dúzia e meia prontos
Mamãe sendo costureira me iniciou na arte, e eu os maninhos ajudávamos nas costuras que ela trazia de uma loja para costurar em casa, eram shorts infantis usados na época, o mano mais novo virava os passantes, passava a ferro e colocava os decalques, o outro costurava em pé na máquina de tão pequeno que era, eu fazia os acabamentos, um dia ela precisou sair e nos deixou a tarefa de adiantar a costura, era uma dúzia e meia de shortinhos amarelos de bolso redondo com viés, convoquei os irmãos para uma surpresa a ela e pau na máquina, em pouco tempo estavam todos prontos, passados e colocados na cadeira, ela ao chegar e nos encontrar na rua já foi batendo, ao entrar em casa e ver o serviço todo pronto não se conteve começou a chorar e nos pedir perdão, ríamos bastante, queríamos mesmo causar e surpreender, o que conseguimos.

Fase triste ao terminar o primário e não ter escola para prosseguir os estudos, sonhava com o ginasial, tive que contentar com um quinto ano particular na Escola Paroquial Nossa Senhora do Carmo, foi bom e importante, uma grande época de minha infância, tudo aprendia com facilidade, não tinha dificuldade em nenhum aprendizado e sentia muita paz no colégio, ao que decidi que ia ser freira, pois assim poderia estudar e gozar daquele sossego, mais uma vez podada por mamãe, não deixou em hipótese alguma, tive ímpetos de fugir, mas como era obediente, obedeci.


Fanfarra - Colégio José de Anchieta 
Aos onze anos juntamente com uma coleguinha, a Inês, corri Vila Prudente e São Caetano na tentativa de conseguir o tal ginásio, em vão, não havia escolas para desenxabidos, maninho terminou o primário e ambos fomos matriculados no Colégio José de Anchieta em Vila Prudente, era o encantamento com as matérias, colegas de classe superior a nós, tomei conhecimento da fanfarra que me alucinou, não pude participar eram muitos ensaios e tinha que trabalhar em casa nas costuras com mamãe para ajudar nas mensalidades escolar, mesmo assim continuava aplicadíssima nos estudos, primeira da classe e passando cola para as vizinhas de carteira, corrigindo os trabalhos de português para o professor Maiorga, grande figura de mestre as antigas que dava reguadas na cabeça dos alunos; papai nessa época ainda trabalhava na Cia Antártica Paulista que foi o melhor período de nossas vidas, bom salário, muitos benefícios, porém aos oito anos de trabalho foi demitido, era o tempo permitido antes do FGTS, para que empregados não tivessem estabilidade, ai o barco fez agua, aos quarenta anos papai não conseguiu outro emprego, era trabalhador braçal e o achavam velho para a função, não mais conseguimos pagar os estudos, faltando dezessete dias para o exame final e sabendo que não poderia fazer a prova por não poder pagar a mensalidade, renunciei, foi uma tentativa de sensibilizar o diretor, o que não ocorreu e deixar apenas meu irmão terminar o ano o que ocorreu.

Esse dia guardo na lembrança para sempre, o dia que virei gente grande aos treze anos de idade, fui ao diretor, pedi meus documentos de volta que estava deixando o colégio, ao que ele perguntou porque? Em minha inocência disse: não vou passar mesmo, então vou sair, era uma cartada, imaginei que sabendo ser eu a primeira aluna do colégio o Diretor entenderia que algo acontecia, então expunha os fatos e ele me deixava terminar o ano, tal não aconteceu ofendeu-me de todas as formas me chamando de preguiçosa, covarde e sei lá mais o que e jogou os documentos na mesa, pensei em defender-me dizendo que não iria passar, pois não realizaria as provas por  não poder pagar, engoli em seco a humilhação, como eu era inocente, evidente que o capitalismos venceria,  retornei para casa com o coração apertado, ao chegar não tinha ninguém, dei vasão às lágrimas que foram de sangue, as sequei antes que chegassem tomando uma decisão, iria trabalhar, não deixaria aquele barco afundar, pois com a situação papai se entregou a bebida e a doença nervosa de mamãe exacerbou, entrei em profunda depressão por uns dias, reagi, arrumei trabalho, costureira, era o que eu sabia fazer e contra a vontade deles, na marra mesmo fui trabalhar na Oficina de costura Confecções Prainha na Rua Silva Teles, era o dia 18 de janeiro de 1961.
 

9 comentários:

  1. Sofri buling e nada alterou meu comportamento...

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  2. Quanta luta, vencerei mais esta, como está difícil, mas estou com a verdade, embora a justiça seja cega, mas necessário é lhe abrir os olhos...

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  3. Quem já venceu tudo isso, vencerá mais esta, que perseguição, parece um pesadelo sem fim...

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  4. Agora me imaginam mentirosa, que luta, consciência tranquila e deixando como está, que pior não poderá ficar...

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  5. Alguns passos na defesa, plantio feito, aguardar a colheita...

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  6. Fiz o ginásio e depois o Técnico em Contabilidade concluído em 1972, posteriormente colei grau em Direito e trabalhei no Judiciário até me aposentar. Hoje a única lembrança que tenho é frequentar o "PIER 10" no Central Plaza Shopping, criado pela professora "CIDA" de português.

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    1. Teve mais sorte que eu, não consegui formação acadêmica, o que não impediu de conseguir bom trabalho, porém na tentativa de uma vida a feliz a dois, botei tudo a perder, joguei tudo na lata do lixo, a 30 anos venho na batalha, sozinha, tentando sair do abismo em que fui lançada.
      Que bom que vc tem esse PIER 10.
      Mas a vida é assim, enquanto estivermos por aqui é viver como se tudo fosse eterno.

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  7. Senhora NILZA, meu nome é Wilson Candeias, tb estive no Anchieta entre 61 e 68. MUITO OBRIGADO por nos brindar tão emotiva história, que reflete todo o passado de muitos de nossa idade. Uma história real e linda, viajei com a distinta amiga, em sua imagem da fanfarra reconheci um professor de caligrafia (ñ recordo o nome) e o prof. Carlos (diretor e dono da escola, que a senhora cita). Do Parque São Lucas recordo de minha classe, havia mais, mas recordo do Cláudio Tomazetti. Quanto ao Professor Maiorga, por suas atitudes, se fosse nos dias de hoje ele apanharia dos alunos. Convido a senhora se desejar conhecer algo sobre espiritualidade, poderá visitar o meu Vida Eterno Crescimento. https://vidaeternocrescimento.blogspot.com/
    Mais uma vez MUITO OBRIGADO, pelo carinho e pelas imagens que tão iguais as minhas! Receba o meu fraterno abraço, Wilson Candeias

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  8. Só hoje estou vendo sua publicação, o professor de caligrafia e desenho era prof Hernani, vc morava no Parque São Lucas, vou conhecer seu blog, com certeza, um abraço...

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