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sábado, 19 de maio de 2012

Aula de anatomia

Doação
Após nove meses da fecundação
Surgimos do ventre de uma mulher,
Aportamos a este planeta
Sem nada saber,
Sem pedir, sem ser consultado.
O aconchego materno, os familiares,
Tudo é muito estranho,
Vamos familiarizando,
Uma casa, um móvel, um animal,
O que será que vim fazer aqui?
Um irmãozinho, um amigo,
Um avião no céu,
As primeiras letras,
Ainda a inocência da primeira infância,
Tudo é muito bom, estou no mundo,
O que será o mundo,
Uma vida, uma situação permanente,
Tudo isso será pra sempre?
Perguntas respondidas,
Desilusão total,
Vem o desalento...
Então o mundo é isto,
Não existe, um dia tudo passa...
Partimos é só restará o pó,
Lembranças de alguns próximos,
Até quando eles existirem,
Haverá uma maneira de mudar isto?
Perguntas que não se calam,
E a rotina precisa seguir
Crescer, estudar, trabalhar,
Casar, ter filhos, netos,
Envelhecer e partir,
Isto se seguir à ordem natural.
Nem sempre é assim,
A caminhada possui tropeços,
Caídas, recaídas,
Não depende de nós,
Há o incauto, o destino quem sabe,
Um bandido no caminho, um assalto,
Um acidente automobilístico,
E tudo pode se acabar.
Será possível mudar isto?

Ao menos por um tempo,
Uma idéia surge,
E toma força,
Será.
Sim, permanecer mais um pouco,
O que não foi possível levar avante,
Estudo, não é para todos,
Universidade...
Palavra sonhada,
E nunca alcançada,
A vida não permite tudo,
Rouba-nos sem dó nem piedade,
E o caminho trilhado,
Não será o caminho sonhado,
A idéia amadurece,
Ser útil, estar na universidade...
Embora sem consciência disso,
Servir a ciência...
Doar a carcaça inútil
Para fugir do fútil,
Não um órgão ou outro,
Mas o todo,
Estar na faculdade...
Ser dessecado para o aprendizado,
Para o conhecimento das futuras gerações
Assombrando alguns, alucinando outros,
Inebriando e assustando,
Mas presente,
Num tanque de formol,
Numa bancada de estudantes,
No templo do saber,
Será a gloria não anunciada,
Mas conquistada,
Estar ainda aqui, nesse planeta de horrores,
Dores e amores,
Por mais um século talvez,
Não degenerar,
Driblar o destino fatal,
Não explodir e alimentar os vermes
Parasitas a abocanhar seu naco
Enfim, o fim de um é a vida de outros.
Essa odisséia enfrentada,
Sem pedir, sem saber,
Chegando sem optar,
Chegando simplesmente,
E partindo simplesmente,

Sem opção,
Mas a doação da carcaça inútil,
Poderá ser a solução
De o sonho realizar,
E não alimentar os parasitas.
Freqüentar a Universidade
Aula de anatomia,
Ao menos por um tempo...
Ou ser engolido pela mãe terra,
Cumprindo assim o banal destino
Do ser vivente
Chegando e partindo
Simplesmente.

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